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sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Guerra - O parco do fim

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Passos apertados rumo a um local seguro. O suor incessante escorre sem demora pelo meu rosto sujo de lama e Sangue. Meu corpo, com avançada exaustão, reclama e reage com sofreguidão aos meus Comandos. Mas preciso reagir, minha vida depende disso. Preciso rever minha família, preciso voltar para casa e sair deste inferno onde fui obrigado a adentrar representando a uma Bandeira e seus interesses Políticos.

Os sons das rajadas contínuas das metralhadoras e fuzis se fundem às explosões provocadas pelas granadas e outros explosivos que vem destruindo tudo o que tem vida em seu raio de ação. Os gritos dos atingidos enchem o ar de agonia, dor e desespero. Aliados e inimigos urram em coro, uníssonos, antes de seus corpos caírem mudos e mutilados ao chão.

Estamos em guerra! Minhas lágrimas caem diante à culpa de ter que tirar uma vida; mas é preciso, pois o Inimigo se aproxima e está à minha procura, assim como eu estou à dele.

Finalmente, encontrei um local que possa me proteger. Me aconchego entre os grossos troncos caídos de uma árvore mutilada. Preparo, aponto meu fuzil e começo novamente o abate. Cada tiro do meu fuzil é uma vida que estou tirando, é um filho que perde seu Pai e um Pai que perde seu Filho. As lágrimas continuam a descer.

Outro companheiro chega ao meu lado. Sinto um grande alívio ao vê-lo com vida, ainda mais por estar perto e com munição suficiente para me ajudar, e assim, nos proteger. Nos encaramos por um breve momento. Palavras não foram ditas, não precisavam ser ditas; vimos um no outro o desespero e o medo, mas também o alívio de termos nos encontrado.

Infinito foi o tempo que me pareceu naquele local, meu companheiro foi baleado e jazia morto ao meu lado. Me deixando todo o seu legado: a munição. Não demorou muito para que esta também acabasse, me deixando apenas com minha faca de lâmina afiada e faminta a cortar quaisquer tecidos em que tocasse.

Saí dali e me escondi em tocaia, pronto para pular em cima do primeiro inimigo que encontrasse. Não demorou muito para o encontrar, mas este deve seu fim antes mesmo que pudesse me ver. Ele não estava só, seu companheiro que vinha logo atrás me atingiu no Peito. Não senti dor, apenas uma estranha sensação de peso em meu corpo que, aos poucos, foi saindo de meu controle, ficando pesado, insuportável.

Antes de fechar meus olhos, pude olhar a fronte de meu assassino e notar que ele também lamentava em seu íntimo por ter tirado minha vida, por ter perdido seu companheiro em minha lâmina e, acima de tudo, por estar naquele local de onde, provavelmente, também não sairia com vida.


Apaguei...
 

O tempo passou. Lentamente, vou recobrando minha consciência. Não sei dizer por quanto tempo fiquei desacordado. Não sinto dor, não estou cansado, não ouço mais o rajar dos tiros passando por minha cabeça. Os gritos dos feridos não ecoam mais em meus ouvidos. A guerra acabou?

Não entendo! Minhas últimas lembranças são do tiro que levei e de meu corpo caindo, inerte, ao chão.

Me apavoro! Onde estão todos? Onde estão meus compatriotas e aliados? Onde estão meus agressores?

Não ouço vozes por perto, o vento não sopra. O silêncio do ambiente é aterrorizante, amedrontador.

Já é noite, e deitado onde estou, percebo que o céu está diferente de antes. Sem nuvens e sem estrelas, mas cintilante em uma linda aurora boreal de cores intensas e dançantes, pulsantes e vivas; no azul, verde e lilás.

Fico absorto, deitado no mesmo local onde fui baleado. Sem coragem para olhar ao meu redor. Sem coragem para me levantar na noite e desvendar o mistério que me rondava. Assim, preferi esperar pelo amanhecer.

A noite foi demasiada longa. Meus olhos não fechavam. Não sentia sono. E conforme foi amanhecendo percebi que a aurora não desapareceu e sim, que apenas suas cores mudaram de tom. Se antes pulsava em tons frios, agora exibe cores quentes em tons de vermelho, lar
anja e amarelo.Tomo coragem e ergo meu corpo. A cena é aterradora. De pé, vejo que realmente continuo no mesmo local onde ocorrera o combate. A terra está devastada, as árvores caídas e destroçadas como conseqüência dos ataques sofridos de ambos os lados. O cenário imparcial aos adversários acabara sendo, também, destruído.

No chão, dentre aliados e inimigos, estão muitos e muitos corpos caídos por todo território. E próximo a mim vejo os corpos dos inimigos, ou melhor, dos homens a quem matei e do outro que tirou minha vida!

Espere, ele tirou a minha vida! Então como posso estar em pé olhando para o cadáver do meu assassino?

Algo está errado. As peças do quebra cabeça não se encaixam! Fico desorientado em meio àquela confusão surreal, não consigo entender. Não consigo me situar.

Começo a caminhar...

A cada passo que dou, fico mais confuso. Todos os corpos estirados no chão, mas nenhuma arma lhes acompanha. Onde estão? Será que alguém passou por aqui as recolhendo? Descarto a idéia de imediato, uma vez que estávamos sozinhos sob ataque na floresta.

Continuo minha caminhada pelo terreno, de canto a outro, à procura de mais alguém que esteja consciente. Não encontro ninguém que se mexa, parece que sou o único a caminhar por aquele inferno sem chamas.

Perco a noção do tempo, o dia e a noite se arrastam vagarosamente. Passei por rios, trilhas, matas fechadas, cavernas e grutas na esperança de encontrar um repouso, de encontrar os recursos para meus cuidados. Mas sem sucesso.

Não sinto fome. E já começo a me questionar quanto a isso. Não sinto calor ou frio. A dor não aflige meu corpo. Necessidades fisiológicas não me incomodam e passam-se indiferentes ao meu corpo e vontade.
Aos poucos, o cansaço foi se abatendo sobre mim, então escolho um local que não esteja destruído pela batalha e que não contenha os corpos abatidos. Não quero olhar para eles, não quero me lembrar do que me levou até ali, mesmo sendo inevitável.

Não sei mensurar por quanto tempo fiquei naquele local, submerso no choque e indignação.

Nunca fui um homem religioso. Sou ateu; acredito no melhor do homem e apenas nele. Mas aquele lugar me fez questionar se estava certo quanto a isso. O impossível estava acontecendo diante dos meus olhos; e a menos que eu estivesse louco, o homem e a ciência não tinham explicação plausível para tal.

A Saudade por minha esposa e filhos aperta meu coração. Choro de raiva por não poder vê-los, por não poder tocá-los. Eles que sempre foram minha maior motivação estavam agora distantes, intocáveis! Meu mundo estava no chão!

Então, na dor do meu desespero, e na vontade de acabar com ele; fiz a única coisa que nunca imaginei fazer: Clamar ao Impossível.

Ajoelhei, e chorando, Orei...




5 comentários:

  1. um dos contos mais lindos que ja li na minha vida toda, adorei!

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  2. Como sugeri em outra oportunidade, esse conto merece uma continuação. Parabéns!

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  3. A imaginação divaga e não traduz mais a certeza. Aplausos! Parabéns.

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    1. Que bom que apreciaram o Conto pessoal!

      Fico muito feliz!!!

      Outros virão, com certeza!!!

      Abraços.

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